Informação foi dada por um dos indivíduos presos durante colaboração premiada. Polícia ainda apura outros detalhes do caso Aprígio
Nesta segunda (17), a Polícia Civil e o Ministério Público deram mais detalhes sobre os desdobramentos da investigação sobre o suposto atentado sofrido pelo ex-prefeito de Taboão da Serra, José Aprígio.
As informações foram dadas durante uma coletiva de imprensa na Delegacia Seccional de Taboão da Serra, com a participação do Delegado Seccional Dr. Hélio Bressan, do Delegado do 1ºDP, Dr. Daniel Cohen, e dos promotores de Justiça no Ministério Público, Dr. Juliano Atoji e Dra. Letícia Ravacci.
O crime aconteceu no dia 18 de outubro de 2024 e, segundo as autoridades, foi forjado.
Atentado forjado
O Delegado Seccional de Taboão da Serra, Dr. Hélio Bressan, abriu a coletiva de imprensa falando sobre os quatro meses de investigação.
“Sobre os fatos, nós conseguimos, em um espaço de tempo muito curto, saber quem eram os executores. Aí a gente começou a fazer a investigação para saber se haviam mandantes e quem seriam eles”, disse Bressan.
O Ministério Público já denunciou os executores do crime por quatro tentativas de homicídio, por adulteração de sinal automotor e pelo crime de incêndio, relacionados ao veículo Nissan March usado no crime.
Questionado sobre a existência de uma farsa, o Promotor de Justiça do Ministério Público, Dr. Juliano Atoji, respondeu: “A princípio, e eu não estou fazendo nenhuma acusação formal a ninguém, o que os elementos apontam é que essa ideia, esse plano, partiu de um grupo político”, ressaltou.
Sobre a Polícia e o MP não terem dúvidas de que se tratou de uma farsa, ele respondeu: “Não há qualquer elemento que aponte que houve um atentado por parte ou de uma organização criminosa conforme noticiado, ou de um grupo político rival. Há elementos sim, de que foi do próprio grupo político que queria, dessa maneira, alavancar a candidatura que estava em baixa naquele momento”, destacou.
“São três executores, um está preso e outros dois estão foragidos. Fora isso, há dois intermediadores que estão presos temporariamente, que seriam pessoas que teriam feito toda a logística, proporvionando essa interlocução de pessoas próximas ao prefeito com os executores do crime. As buscas hoje foram para avançar, para tentar desvendar quem, quais são os secretários ou assessores do prefeito que estavam envolvidos no mando do crime”, explicou o promotor, se referindo à Operação Fato Oculto, desencadeada pela manhã, com dez mandados de busca e apreensão e dois de prisão temporária, onde foram apreendidos celulares, dinheiro, computadores e armas. “A prisão temporária visa coletar provas e maiores elementos. Com as buscas de hoje vão ser supridas todas as dúvidas com relação ao mando”, disse Juliano.
O Delegado Seccional Hélio Bressan explicou sobre os pedidos de prisão. “Foram pedidas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público, seis prisões. O Poder Judiciário decretou duas prisões temporárias. Quando fomos cumprir um dos mandados e prisão temporária, um desses indivíduos também foi preso em flagrante por porte de arma (munições, etc). O outro indivíduo preso, não tinha decretada a prisão, mas ele estava de posse de uma arma que era produto de ato infracional, e ele foi autuado por receptação e por porte ilegal de arma. Nós fizemos essa busca e apreensão para saber qual era a ligação de algumas pessoas com as pessoas que estavam executando essa situação. Eu preciso ligar os executores aos mandantes”, disse.
Delação Premiada
Segundo o delegado, a Polícia Civil teve a “Colaboração Premiada” (delação) de um indivíduo preso poucos dias após o crime.
“A Polícia Civil teve a colaboração premiada de um dos presos e com ela, nós começamos a ter o desenrolar dos fatos. Na colaboração, nós ficamos sabendo que haveria, provavelmente, a participação de alguns outros entes políticos, que seriam secretários da Prefeitura de Taboão à época, e que aquilo teria sido, de alguma maneira, uma “montagem” daquela situação, para que pudesse ter uma reversão sobre o ponto de vista político. Essa foi a tônica da história”, disse Bressan.
Com a colaboração premiada, a Polícia Civil, com apoio do MP, passou a fazer diligências para comprovar as falas do delator. Ainda segundo o delegado, a informação do colaborador é que seriam pagos R$500 mil reais. “Mas essa prova vai ter que ser melhor pesquisada”, disse o delegado.
Arma do crime
A Polícia confirmou que a arma utilizada no crime foi um fuzil AK47, que até o momento não foi localizado. Ele teria sido comprado pelo indivíduo preso ontem, pelo valor de R$85 mil reais. Segundo o delator, o dinheiro para a compra teria sido fornecido pelo prefeito através do secretário de obras.
“A análise da parte digital, que foi apreendida hoje, vai nos trazer essas provas. Isso tudo será analisado e mandado para a perícia, para que possamos saber quem efetivamente fez o que. Se há uma ligação entre alguém, se há dinheiro saindo da conta de alguém para ir para a conta de alguém, tudo isso vai ser investigado. E não há nenhum tipo de possibilidade das pessoas que estão sob investigação quererem esconder essas provas. Não tem como esconder”, enfatizou Bressan.
A investigação X suspeitos
Bressan contou aos jornalistas que, após o crime, foi feita uma reprodução simulada dos fatos e nessa reprodução, segundo ele, “as conclusões foram incríveis”.
“Veja, se era para fazer um atentado contra o prefeito, ele esteve em alto grau de vulnerabilidade por diversas vezes naquele dia. Os indivíduos estavam na região, estavam próximos e ninguém atirou. Ele estava fora do carro, ele esteve em outras oportunidades”, ressaltou o delegado, dizendo que a partir daí, o caso passou a levantar suspeita.
“É difícil acreditar que, se era para efetivamente ceifar a vida dele, porque não aproveitaram quando ele estava fora do veículo? Porque algumas pessoas ficaram muito interessadas em saber qual era o nível de blindagem do veículo em que ele estava? São vários os aspectos dentro da investigação que vão te levando cada vez mais a entender e concluir que alguma coisa teria acontecido ali, alguma trama diferente do que estava se apresentando como se tivesse sido um atentado”, destacou.
Segundo Bressan, algumas coisas causam estranheza na investigação, como o fato de que o crime foi filmado e em pouco tempo foi divulgado o vídeo. “Essas coisas vão nos levando a acreditar que tem alguma coisa a mais aí, que isso tá errado, que não houve um atentado.”
Sobre a participação do ex-prefeito, o delegado informou que até este momento não é possível falar isso. “Não há ainda como eu afirmar categoricamente que ele estava participando disso”, explicou. “A gente tem alguns indícios, algumas coisas, que fogem da normalidade, mas eu ainda não tenho uma prova cabal para dizer, olha, ele participava disso. Eu não posso falar isso”, afirmou.
Durante a investigação, apurou-se que os envolvidos chegaram a questionar como seria feito o ataque. “Há na investigação que alguém teria dito, olha, vamos fazer tiro de pistola e aí teria sido dito o seguinte. Não, tiro de pistola ninguém vai acreditar, vamos fazer tiro de fuzil. Qual a blindagem do carro? A blindagem é assim. Tudo isso ainda vai ser absolutamente comprovado mais para frente”, disse o delegado.
Segundo a Polícia, o sobrinho do ex-prefeito também está sendo investigado pois está envolvido em um caso semelhante ocorrido em uma cidade no interior de Alagoas. O caso envolveu o pai dele que, às vésperas da eleição, sofreu um atentado.
“Ao que tudo indica, lá chegou-se a conclusão de que esse atentado não existiu, mas o que eu sei é que o pai dele acabou sendo eleito lá. No caso dele, causa um pouco de estranheza para nós pois ele está praticamente na cena do crime, ele persegue o carro, filma o carro, com a esposa e o filho dentro do carro”, ressaltou Bressan.
“Vamos imaginar o seguinte: você vê os indivíduos dando tiro de fuzil no carro dos outros e, ao invés de você parar e tentar socorrer quem está lá, o que é que você faz? Você expõe a sua mulher, expõe o seu filho, e sai correndo atrás daqueles caras? E num determinado momento você abandona essa vigilância, essa perseguição que você estava fazendo? Isso também causou bastante estranheza para nós, aliado ao fato que aconteceu a mesma coisa com o pai ele, e ele estava lá, depois veio para cá. Então vamos investigar”, disse.
Secretários
Sobre os envolvidos no crime, sobre o ponto de vista político, o delegado afirmou que é um grupo estritamente restrito. Sobre os três secretários investigados, Bressan informou que, em um primeiro momento, estão vendo a ligação que eles tinham com os executores.
“Em algum momento, alguém teria que ter contratado quem foi fazer esse serviço. Esse alguém quem é? Nós temos que ter certeza. Para isso nós fizemos o mandado de busca hoje”.
Sobre o local onde o crime teria sido planejado que estava sob sigilo, ele foi citado pelo delegado durante a coletiva como sendo em Osasco. Segundo ele, não há nenhuma imagem de secretários nesse local, mas durante a colaboração premiada, a Polícia teve alguns detalhes. “Ele falou, olha, em tal lugar vai estar um secretário tal, mas não se preocupa porque esse cara que tá lá não tem problema nenhum. Então isso chamou a nossa atenção também”, relatou o delegado.
Sobre o andamento da investigação, Bressan enfatizou que as apreensões feitas durante os mandados de busca, vão ajudar a Polícia na conclusão da investigação.
“Esse aqui não é o fim. Nós chegamos a mais um estágio da investigação. Nesse estágio, nós conseguimos fazer algumas apreensões que eram do nosso interesse (celulares, computadores, R$320 mil em dinheiro, armas de fogo e farta munição). Foi um tempo muito recorde, e foi muito rápida a conclusão que a Polícia chegou e a investigação se desenvolveu”, finalizou.
Nesta terça-feira, 18, está marcado um novo depoimento do ex-prefeito José Aprígio.
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