giro

ENTREVISTA: ‘IA não vai moldar o futuro da aprendizagem’

Logo Giro
Adriana Martinelli: "Para a evolução tecnológica ser mais equilibrada, será necessário investir no pensamento crítico, na inteligência emocional, nas habilidades interpessoais, na resiliência, na empatia" (Divulgação / Bett Brasil)

É o que afirma à reportagem do GIRO, Adriana Martinelli, diretora de conteúdo da Bett Brasil, consultora e mentora em educação inovadora

Na vanguarda da transformação educacional, Adriana Martinelli, consultora e mentora em educação inovadora, desempenha papel crucial como diretora de conteúdo da Bett Brasil, considerado o maior evento de Inovação e Tecnologia para Educação na América Latina.

Em uma conversa franca e esclarecedora com a reportagem do GIRO, Adriana compartilha sua visão sobre o futuro da aprendizagem, a influência da inteligência artificial, as adaptações necessárias na educação para as profissões do futuro e as competências essenciais que os alunos devem desenvolver em um mundo que será cada vez mais impulsionado pela automação e Inteligência Artificial (IA).

A profissional também destaca como a Bett Brasil está se tornando um elo fundamental na promoção da inovação e tecnologia na educação, criando conexões e espaços de vivências para todos os envolvidos no processo educacional. A seguir, acompanhe a entrevista.

RAIO X, Adriana Martinelli
Fonoaudióloga e especialista em Psicopedagogia e Tecnologias de Comunicação. Foi coordenadora na área de educação e tecnologia no Instituto Ayrton Senna. Atualmente, diretora de conteúdo na Bett Brasil, consultora e mentora em educação inovadora, desenvolvimento pessoal e profissional docente. Mestranda em Psicologia Organizacional pela MUST University.

(Fotos: Divulgação / Freepik)

GIRO: É notório que a pandemia da covid-19 acelerou muitos processos que estavam em andamento. Certamente o EAD foi um deles. Em sua avaliação, a tendência para essa modalidade de aprendizado ainda é de crescimento? Aponte as principais vantagens e desvantagens.

Adriana Martinelli: A pandemia fez com que o modelo EAD (sigla para Ensino a Distância) fosse admitido mais amplamente no processo de aprendizagem durante os dois anos mais restritos. O modelo tem vantagens, como ganhar escala, dada a natural flexibilidade, assim como reduzir custos e proporcionar uma experiência diferenciada de aprendizagem autodirigida.

Porém, há desvantagens, entre elas, a falta de interação face a face, imprescindível e própria do modelo presencial. Há ainda a questão da impossibilidade de experiências práticas e o acesso e a qualidade da conexão à internet para isso. O modelo (EAD) foi pensado a partir do presencial, com a lógica do presencial, e isso se traduz em uma falha do EAD, porque não se transfere o modelo (presencial) para os meios online, reduzindo tanto o engajamento quanto as dinâmicas de avaliação do estudante.

LEIA TAMBÉM: Jornal GIRO e portal iG firmam parceria inédita na região

Deve-se entender ainda que o EAD é uma ferramenta que tem interação diferente do presencial. A proposta que se deve colocar à mesa é um modelo híbrido, ou como aponta Silvio Meira, educador pernambucano e um dos grandes pensadores sobre tecnologia e educação, pensar no modelo ‘figital’, físicos e digital, que se articulam de forma real e próxima da vida dos estudantes. É esse modelo que acredito também que deve se intensificar cada vez mais daqui para frente.

‘A IA não vai moldar o futuro da aprendizagem
porque quem molda são as pessoas’

GIRO: A inteligência artificial (IA) tem desempenhado um papel cada vez mais importante em diversos setores de atuação e numa velocidade jamais vista anteriormente. Você acredita que a IA poderá moldar o futuro da aprendizagem?

Adriana Martinelli: A IA não vai moldar o futuro da aprendizagem porque quem molda são as pessoas, os professores, os estudantes, os educadores. Claro que é uma grande possibilidade a favor da educação, mas a partir do ponto em que o aluno passa a compreender e utilizá-la de forma a apoiá-lo em processos automatizados, tornando-se uma ferramenta, um caminho para instigar interesses e colocar desafios. Nesses cenários, é preciso mudar o ‘mindset’, ou seja, o estudante – e a sociedade como um todo – deve pensar, refletir e aprender a fazer melhores perguntas, e assim eliminar o desejo de respostas prontas, que é fator improdutivo no processo de aprendizagem.

GIRO: Em relação às profissões do futuro, como a educação está se adaptando para preparar os alunos para empregos que ainda nem existem?

Adriana Martinelli: Há movimentos na educação básica e na educação superior e profissional para as profissões que ainda não existem. A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) é um dos caminhos, pois aponta nas dez competências adaptações e busca pelo autoconhecimento e pensamento crítico, que preparam os estudantes para as transformações da sociedade e os aproximam mais do mundo do trabalho e da realidade para além do mundo acadêmico. Para isso, há diretrizes para a formação do estudante de forma mais integral, que instigue aspectos socioemocionais, técnicos, relacionais, conversacionais que preparem para o novo mundo que ainda está por vir.

ENTREVISTA: 'IA não vai moldar o futuro da aprendizagem'
Adriana Martinelli no Center for Education Research at Stanford (CERAS) (Divulgação / Arquivo Pessoal)

GIRO: Quais habilidades e competências os alunos precisam desenvolver para se destacar em um mundo onde a automação e a IA deverão desempenhar um papel cada vez mais significativo?

Adriana Martinelli: Entre as competências intrínsecas a essa evolução tecnológica, com IA, etc., está a ética. Para a evolução tecnológica ser mais equilibrada ou temperada, será necessário investir no pensamento crítico, na inteligência emocional, nas habilidades interpessoais, na resiliência, na empatia, que permita o ser humano compreender e conviver em um mundo em constante evolução, onde também a prioridade deve ser a conexão humana, embora sem deixar de lado as importantes contribuições das tecnologias, do digital, da IA neste contexto.

GIRO: Como a Bett Brasil está contribuindo para impulsionar a inovação e a tecnologia na educação na América Latina?

Adriana Martinelli: A Bett Brasil é um hub que se propõe a articular o segmento educacional, compondo diálogos com estudantes, governos, iniciativa privada, enfim, com todos os entes educacionais interessados. Nossa proposta é também fazer conexões para ampliar espaços de vivências, processos e decisões, para criar o que chamamos de experiência Bett Brasil.

Para que isso seja possível, colocamos em prática a diversidade, contando com atores de diversas regiões federativas, geracionais, de gênero, de raça, onde todos tenham espaço de fala dentro da Bett Brasil. Porque é assim o mundo real e deve ser assim dentro de um evento global como a Bett, que quer ter dentro de seus espaços iniciativas e ações que se transportem para fora, para as escolas, para as instituições de ensino, das redes de ensino, para o mercado, para as realidades urgentes de gestores públicos e privados.

Jornalismo regional de qualidade
Há mais de 15 anos, o GIRO noticia os acontecimentos mais importantes nos 12 municípios que compõem o consórcio *Cioeste. Essas cidades estão localizadas na Região Metropolitana da Grande São Paulo e possuem uma população que ultrapassa os 2,5 milhões de habitantes.    

Siga o perfil do jornal no Instagram e acompanhe outros conteúdos.

*Cioeste: Araçariguama, Barueri, Cajamar, Carapicuíba, Cotia, Itapevi, Jandira, Osasco, Pirapora do Bom Jesus, Santana de Parnaíba, São Roque e Vargem Grande Paulista.

Receba nossas notícias em seu e-mail