Marcelo Queiroz, executivo da ClearSale, empresa de soluções antifraude sediada em Barueri, fala sobre como se proteger dos crimes digitais
No primeiro semestre de 2023, o Brasil testemunhou uma cifra alarmante de 2 milhões de tentativas de fraude online, conforme apontado pelo Mapa da Fraude da ClearSale, empresa sediada no Tamboré, no município de Barueri, especializada em soluções antifraude em diversos setores.
Essas tentativas de fraude acumularam um valor estrondoso de R$ 2,5 bilhões. A análise do estudo abrangeu 117,1 milhões de pedidos realizados entre 1° de janeiro e 30 de junho, evidenciando redução de 50,6% no número de tentativas de fraude em relação ao mesmo período do ano anterior.
Embora os números gerais tenham apresentado queda, um fato inquietante emergiu: o ticket médio das tentativas de fraude atingiu a marca de R$ 1.273, representando aumento de 4,1% em comparação com o primeiro semestre de 2022.
Golpes cada vez mais sofisticados
Eduardo Mônaco, CEO da ClearSale, interpretou esses dados como reflexo da desaceleração do comércio eletrônico e das incertezas financeiras decorrentes do atual panorama econômico. “Já havia esta expectativa devido à retomada do comércio presencial e ligeira diminuição das vendas por aplicativos. De toda forma, os números ainda são altos, principalmente quando olhamos para o valor total e ticket médio das tentativas de fraude que, inclusive, foi mais alto do que em 2022. Lojistas precisam permanecer atentos e vigilantes aos possíveis golpes, cada vez mais sofisticados e frequentes”, destaca o executivo.
Fraude online: “Caso tenha sido vítima de um crime digital, é crucial agir imediatamente”
À reportagem do GIRO, o head de estratégia e novos negócios da ClearSale, Marcelo Queiroz, falou sobre os tipos de crimes digitais mais comum atualmente e o que deve ser feito caso uma pessoa tenha sido vítima de um crime do tipo. A seguir, acompanhe os detalhes da entrevista.
Atualmente, quais são os tipos mais comuns de crimes digitais que os usuários enfrentam? Especialmente quando falamos de crimes digitais, podemos considerar o vazamento de dados. Isso envolve dados que temos expostos e que acabam sendo acessados por criminosos. A partir desse acesso, eles os utilizam para revender os dados ou, de fato, cometer crimes. Outro tipo é o processo de engenharia social, onde os criminosos obtêm outros dados por meio de artifícios. Além disso, há o efetivo cometimento de ações com os dados coletados, frequentemente realizando transações em nome da vítima. Isso pode envolver desde transações financeiras até compras de produtos ou serviços no ambiente digital.
Fale sobre as principais técnicas e táticas usadas pelos criminosos digitais para enganar os usuários e obter acesso indevido a informações pessoais. A principal técnica que eu destacaria está relacionada à promoção. Geralmente, há um apelo emocional ou a exploração de uma grande promoção ou oportunidade com um custo muito baixo, fazendo uso da engenharia social. Outro método é enviar um link persuasivo, induzindo a vítima a efetuar um pagamento ou fornecer informações sensíveis.
Redes sociais e mídias digitais são alvos frequentes de ataques. Quais precauções os usuários devem tomar ao usar essas plataformas para proteger suas informações? Sim, redes sociais e mídias digitais são alvos frequentes de ataques. É essencial que os usuários adotem precauções ao utilizar essas plataformas a fim de resguardar suas informações. Em particular, quando estamos abordando redes sociais ou aplicativos de mensagens, a implementação do que é conhecido como MFA (Múltiplo Fator de Autenticação) é de extrema importância. Portanto, é recomendável habilitar, no mínimo, o segundo fator de autenticação, em vez de confiar unicamente em um único método de autenticação. Além disso, ao falarmos de senhas, é fundamental utilizar senhas robustas que não sejam repetitivas. O MFA, no entanto, é uma medida crucial para garantir a proteção. A maioria das redes sociais e mídias digitais já disponibiliza essa opção, embora, no Brasil, seu uso ainda seja limitado. Isso ocorre possivelmente por falta de conhecimento e, em parte, devido à falta de conscientização sobre a segurança digital.
Com a explosão do e-commerce no País, acelerada principalmente devido à pandemia da covid-19, é possível concluir que o número de crimes digitais cresceu no Brasil? Sim, desde o início dos anos 2000, o número de crimes digitais no Brasil tem aumentado. Esse crescimento continuou ao longo dos anos, especialmente com a expansão das compras online. A década de 2010 registrou um aumento significativo. A pandemia, por sua vez, teve um papel duplo: ela aumentou o volume de transações digitais, proporcionando assim mais oportunidades para ataques cibernéticos, e também trouxe novos usuários ao ambiente digital, muitos deles com pouca experiência em segurança digital. Portanto, olhando para o panorama geral, o crescimento dos crimes digitais já estava em andamento, e a pandemia só agravou essa situação. Além disso, vale a pena mencionar o PIX, lançado no final de 2020. Ele trouxe não apenas novos métodos de pagamento, mas também novos riscos, pois os criminosos adaptaram suas abordagens para explorar esse sistema de transferência instantânea.
“Embora o PIX em si seja seguro, a engenharia social ainda representa uma ameaça. A transferência instantânea via PIX oferece um apelo para os criminosos, devido à rapidez da operação. Para combater isso, existem soluções especializadas no Brasil, que visam proteger as instituições financeiras e outras empresas que utilizam a modalidade como meio de pagamento e transferência.”
Foi vítima de um crime digital? Acompanhe as orientações de Marcelo Queiroz para as ações imediatas que são necessárias para minimizar os danos.
No caso de ocorrer um crime digital, é crucial agir imediatamente. Primeiramente, bloquear suas contas é de suma importância. Entre em contato com as instituições financeiras ou o provedor de serviços digitais nos quais você foi alvo desse crime. Peça o bloqueio dos seus dados e explique o ocorrido. Além disso, é fundamental utilizar os canais apropriados de denúncia.
Se o crime digital envolveu a obtenção do seu número de celular ou outros dados pessoais, informe seus familiares por meio de outros canais, uma vez que você pode ter perdido acesso às suas contas originais. Isso permite que eles estejam cientes da situação. Dependendo do impacto causado pelo crime, se a instituição financeira ou plataforma digital não oferecer um atendimento satisfatório, acionar seus direitos por meio do Procon é uma alternativa.
Uma prática cada vez mais comum é a adesão a um seguro específico para transações digitais, oferecido por várias instituições. Esse seguro, com um custo relativamente baixo, proporciona proteção adicional. É uma alternativa viável a ser considerada, com valores muitas vezes abaixo de 10 reais ou algumas dezenas de reais, dependendo da cobertura oferecida e do tipo de transação. Pode ser altamente eficaz.
É importante destacar que, apesar dessa opção de seguro, as instituições ainda têm a obrigação de garantir a segurança e atender às necessidades dos clientes. No entanto, essa abordagem de seguro é um modelo interessante. No âmbito das melhorias na maturidade digital no Brasil, estamos progredindo, e ainda há um longo caminho a percorrer, especialmente no que diz respeito à cultura de seguros para prevenção financeira. Precisamos aproveitar esses instrumentos disponíveis para nossa proteção.
Mais detalhes sobre o Mapa da Fraude ClearSale
O estudo do Mapa da Fraude se concentrou exclusivamente em pagamentos via cartão de crédito no setor de e-commerce. Foram consideradas tentativas de fraude todas as transações classificadas como suspeitas ou confirmadas como fraudes por algum motivo.
Categorias vulneráveis
Dentre as categorias mais afetadas no primeiro semestre deste ano, destacam-se os eletrônicos (5,7%), cujo ticket médio atingiu R$ 2.545, seguidos por celulares (5,2%), com um ticket médio de R$ 2.901, e informática (3,3%), com um valor médio de R$ 2.623. Vale ressaltar que, exceto pela categoria de informática, tanto eletrônicos quanto celulares lideraram as categorias mais visadas por fraudadores pelo terceiro ano consecutivo. Tal situação pode ser atribuída, segundo o CEO, à alta demanda nos mercados paralelos, à maior liquidez e à facilidade de transporte desses produtos.
Análise regional
A região Norte (2,6%) continua a apresentar a maior taxa percentual de tentativas de fraude em relação à quantidade total de transações, com um ticket médio de R$ 1.381. O Nordeste (2,2%) ocupa o segundo lugar nesse ranking, com um ticket médio de R$ 1.300. O Centro-Oeste (1,6%) e o Sudeste (1,6%) empatam no terceiro lugar, com valores médios de R$ 1.438 e R$ 1.157, respectivamente. A região Sul (1%) detém o índice mais baixo de fraudes por estado, com um ticket médio de R$ 1.153. Entretanto, quando observados apenas os números absolutos, a região Sudeste lidera o país, com 47,1 milhões de pedidos que resultaram em tentativas de fraude.
Gênero e faixa etária
Quanto ao gênero, os homens são as principais vítimas de tentativas de fraude (2,3%), seguidos por um grupo denominado “outros” (1,7%), que inclui pessoas com diferentes identidades de gênero ou erros de integração, e, por fim, as mulheres (1,2%). Em relação à faixa etária, embora os indivíduos entre 36 e 50 anos (1,1%) liderem em número de pedidos online, o estudo destaca que aqueles com até 25 anos foram os mais atingidos por tentativas de fraude (3,3%), seguidos pelo grupo de 26 a 35 anos (1,5%).
Outros setores afetados
O mercado de Marketplace também não passou despercebido pelos fraudadores, apresentando um ticket médio de R$ 1.849 para as tentativas de fraude. Durante o período analisado, foram examinados 17,2 milhões de pedidos, dos quais 347,4 mil foram alvo de tentativas de fraude, totalizando um valor de R$ 642,3 milhões.
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