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Alphaville: os principais desafios para esta e as próximas gerações

Ainda há espaço para o bairro de Alphaville crescer, porém, com sustentabilidade (Divulgação/Prefeitura de Barueri)

O crescimento do bairro traz novos problemas. A arquiteta Mari Polesi aponta os principais deles, sugerindo soluções; acompanhe

Alphaville, bairro localizado entre os municípios de Barueri e Santana de Parnaíba, se desenvolveu muito ao longo dos seus 50 anos de existência. Assim, não é por acaso que muitas famílias e empresas, que desejam locais com mais verde e pela qualidade de vida, aportaram no local e fizeram com que população residente e flutuante crescesse vertiginosamente.

No censo de 2022, a cidade de Barueri comportava 316.473 moradores  e Santana de Parnaíba 154.105 pessoas residentes. Obviamente, nem todas moram em Alphaville, já que esses dois municípios têm outros bairros inclusos. Mas só para se ter uma ideia de crescimento, desde 2010, somente na cidade de Santana de Parnaíba, a população cresceu cerca de 41,6% (o número de residentes em 2010 era de 108.813 habitantes).

Com tanta gente morando e trabalhando em ambas as cidades, os gestores públicos estão sempre necessitando rever a infraestrutura, as vias de acesso, os transportes públicos, entre outras questões. Para a arquiteta Mari Polesi, é importante que esses gestores tenham sempre uma visão global para equilibrar a quantidade de pessoas e empresas com a infraestrutura necessária, mas mantendo as áreas verdes dos municípios, cada vez mais imprescindíveis em tempos de aquecimento global.

Mari diz que existem muitas soluções de projetos que unem desenvolvimento e sustentabilidade. Porém, no Brasil, pouco ainda se faz. “Há cidades, por exemplo, que reinseriram os rios no seu traçado urbano, e isso sim foi uma grande e definitiva solução. Um que conheci pessoalmente foi o projeto “Madrid Rio”, que destamponou o Rio Manzanares, que corta o centro da cidade, e desviou o tráfego de automóveis para viadutos subterrâneos. Ao lado desse rio, foi feito um parque linear com ciclovias para auxiliar no trânsito, e alamedas arborizadas, que também incentivaram o deslocamento a pé. Os jardins de chuva inseridos no projeto serviram para reter o grande volume de água e evitar as enchentes. Ou seja, o parque ao lado do rio não é apenas belo, mas sim é uma das soluções para os problemas da cidade”, exemplifica a arquiteta. 

Mari acrescenta que falar nessas soluções hoje no Brasil ainda parece uma grande utopia. “Existem outros exemplos como os de Madrid, de muitas outras cidades que reinseriram os rios no tecido urbano para desafogar o trânsito, evitar enchentes, atenuar ilhas de calor e, ainda, trazer um espaço de lazer para as pessoas, que conseguiram grande êxito. Por aqui, em muitas localidades, vemos exatamente o contrário. Os poucos rios e córregos que sobraram pela cidade estão sendo “tampados”, e repito , não adianta esconder o problema, a natureza é implacável e ela já está dando sua resposta!”, conta.

A arquiteta destaca que, na região de Alphaville, as maiores enchentes acontecem exatamente onde os Rios Barueri e Itaquiti estão tampados. “Por isso vemos as enchentes se repetirem no bairro. Próximo ao Shopping Tamboré também ocorre o mesmo, uma vez que os rios e córregos foram cobertos para abrir vias. O que vemos hoje é o trânsito caótico, que ganha ainda mais evidência quando chove, entre outros problemas que surgem sem a vazão adequada de água. Verifico muitas obras de embelezamento, pracinhas bonitas espalhadas pelo bairro, mas sem a funcionalidade de minimizar os impacto das construções. Há soluções simples que deveriam ser implementadas em conjunto com essas obras de embelezamento, como por exemplo os “jardins de chuva”, que ajudam no controle efetivo das enchentes”, acrescenta ela.

Alphaville: os principais desafios para esta e as próximas gerações
Arquiteta Mari Polesi diz que as soluções para problemas de infraestrutura estão na sustentabilidade (Arquivo Pessoal/Mari Polesi)

Alphaville: espaço para crescer, porém de forma sustentável

Apesar do grande número de construções em Alphaville, há ainda muito espaço para o bairro crescer, e ele certamente crescerá. “Ainda temos muitos terrenos livres e já estão projetados muitos edifícios, tanto residenciais quanto comerciais. Que vai crescer, já é um fato, mas resta saber se os projetos de infraestrutura serão implementados de forma sustentável, uma vez que a questão ambiental é importante e preocupa a todos nós”, complementa Mari.

Ela afirma que usar exemplos de projetos de países que estão recuperando o meio ambiente para que o crescimento seja sustentável é uma excelente opção para os gestores públicos de Barueri e de Santana de Parnaíba. “Tem um livro que gosto muito que cita esses cases, que é o livro “Rios e Cidades – Ruptura e Conciliação”, de autoria de Maria Cecília Barbieri Gorski”, diz.

Nele, a autora detalha exemplos bem sucedidos da reinserção de rios no tecido urbano com projetos internacionais e nacionais. “Acho que entender essa relação é um dos principais caminhos para um desenvolvimento que se sustente ao longo dos anos. As demais soluções, como uso de asfalto e pisos drenantes, jardins de chuva, telhados verdes, corroboram. Tem um ensinamento do grande arquiteto e urbanista Jaime Lerner, que foi governador de Curitiba e fez um belo plano urbano para cidade, que se chama “Acupuntura Urbana”. Lá é mostrado como as soluções adotadas em um ponto da cidade beneficia todo o restante. Ambos os trabalhos citados são modelos a seguir”, pontua Mari.

Para finalizar, a arquiteta acrescenta que se essa consciência de projetos sustentáveis não for prioridade no bairro, os problemas já citados (trânsito, enchentes, entre outros) serão agravados, até o ponto de colapso (nesse momento, reverter o quadro será sempre mais oneroso).

“Em 2013, ano no qual ainda cursava a faculdade de Arquitetura e Urbanismo, eu tive de entrevistar o secretário da área de Urbanismo de uma das cidades que abriga Alphaville. Naquela ocasião, ouvi dele (apesar de ele ter estudado na Alemanha, país que é exemplo de projetos urbanos sustentáveis), que não haviam projetos para implementação nem de ciclovias e nem de parques lineares na cidade. O que existiam eram projetos de ‘piscinão’ para conter enchentes. Nós, como estudantes na época, achamos aquilo um retrocesso, que espero tenha ficado no passado. Para resumir, a solução mais uma vez está na natureza! É importante que as cidades e as localidades se desenvolvam sim, porém, com sustentabilidade!”, afirma a arquiteta.

Alphaville: os principais desafios para esta e as próximas gerações
Há espaço para crescer, porém, sempre pensando em manter as áreas verdes (Divulgação/Prefeitura de Barueri)

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